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Santo do Dia - Santo Anjo da Guarda de Portugal: um protetor celeste na história da nação
Desde as origens da nacionalidade, o Anjo da Guarda de Portugal é invocado como sentinela divina, zelando pelos destinos da Pátria e do seu povo, em uma devoção que transcende séculos.

A devoção ao Santo Anjo da Guarda de Portugal, ou Anjo Custódio de Portugal, é uma das mais antigas e enraizadas na história e espiritualidade lusitanas. Não se trata de uma figura angelical específica com um nome próprio revelado, mas sim da crença na existência de um anjo particular, designado por Deus, para proteger a nação portuguesa e seus habitantes desde os seus primórdios.
Origens da Devoção
A crença na proteção de um anjo sobre o reino de Portugal remonta aos primeiros séculos da sua formação. A ideia de um anjo tutelar para nações é comum em diversas tradições cristãs e judaicas. Em Portugal, essa devoção ganhou força especial a partir de eventos cruciais da sua história. Um dos momentos mais significativos que consolidaram essa fé foi a Batalha de Aljubarrota, em 1385. Antes do confronto decisivo contra as tropas castelhanas, D. Nuno Álvares Pereira, o Santo Condestável, teria tido uma visão do Anjo de Portugal. Atribuindo a vitória surpreendente à intercessão divina e à proteção angelical, o rei D. João I (Mestre de Avis) e D. Nuno Álvares Pereira ordenaram a construção do Mosteiro da Batalha (Mosteiro de Santa Maria da Vitória) como agradecimento. Essa vitória crucial na consolidação da independência portuguesa ligou de forma indissolúvel a ideia de um protetor celeste ao destino da nação.
Reconhecimento Oficial e Consolidação
A devoção ao Anjo Custódio de Portugal foi oficialmente reconhecida e promovida ao longo dos séculos. Em 1504, o Papa Júlio II concedeu a Portugal a faculdade de celebrar uma festa litúrgica em honra do seu Anjo da Guarda. Mais tarde, em 1640, após a restauração da independência portuguesa do domínio espanhol, o rei D. João IV (o Restaurador) pediu ao Papa Urbano VIII que confirmasse a festa do Anjo Custódio de Portugal, o que foi concedido, estabelecendo a celebração em 10 de junho, dia que mais tarde viria a ser o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Essa data, curiosamente, coincide com o dia em que o Anjo da Guarda de Portugal foi colocado no Breviário Romano para toda a Igreja Universal, atestando a importância da devoção portuguesa.
As Aparições em Fátima e o Anjo de Portugal
No século XX, a devoção ao Anjo da Guarda de Portugal ganhou um novo e extraordinário capítulo com as Aparições do Anjo aos três Pastorinhos de Fátima em 1916. Nas suas aparições preparatórias para as de Nossa Senhora, o Anjo, que se apresentou como o "Anjo da Paz" e o "Anjo de Portugal", instruiu Lúcia, Francisco e Jacinta sobre a oração, a penitência e a adoração a Deus. Ele ensinou-lhes orações profundas, como a Oração do Anjo (Ó meu Deus! Eu creio, adoro, espero e amo-Vos...) e a Oração do Perdão, enfatizando a reparação pelos pecados e a preparação para a vinda de Nossa Senhora. Essas aparições reforçaram a crença popular na proteção angelical sobre a nação e deram um novo impulso à devoção, ligando-a indissoluvelmente à mensagem de Fátima. O Anjo de Portugal é, assim, uma figura que precede e prepara o caminho para a Rainha de Portugal, Nossa Senhora de Fátima.
Legado da Devoção
Atualmente, o Santo Anjo da Guarda de Portugal continua a ser invocado em orações pela nação, pelas famílias e por cada português. Sua figura representa a certeza da proteção divina sobre o povo português, um sinal de que Deus vela sobre a história e os caminhos de Portugal, convidando os fiéis a uma vida de oração, fé e reparação. É uma devoção que sublinha a identidade espiritual e histórica de um povo que confia na providência divina.