São Francisco Caracciolo (1563-1608), nascido Ascanio Caracciolo, foi um nobre italiano que renunciou aos privilégios de sua linhagem para se dedicar inteiramente a Deus e ao serviço do próximo, fundando uma nova ordem religiosa e deixando um legado de profunda espiritualidade e caridade.

A Juventude e a Virada de Vida:

Ascanio Caracciolo nasceu em 13 de outubro de 1563, na Villa Santa Maria, Abruzos, Reino de Nápoles (atual Itália). Pertencia a uma das mais ilustres e antigas famílias nobres de Nápoles, os Caracciolo, o que lhe garantia um futuro promissor nobres e privilégios sociais. Desde jovem, Ascanio era conhecido por sua vida virtuosa e pias. No entanto, um evento inesperado mudou radicalmente o curso de sua vida. Aos 22 anos, foi acometido por uma grave doença de pele, identificada por alguns como lepra ou elefantíase, que o levou à beira da morte. Diante da iminência da morte, Ascanio fez um voto a Deus: se fosse curado, dedicaria sua vida inteiramente ao serviço divino. Milagrosamente, ele se recuperou. Fiel à sua promessa, Ascanio Caracciolo abandonou sua vida de nobreza e os planos de casamento arranjados pela família. Em 1585, mudou-se para Nápoles para iniciar seus estudos eclesiásticos.

A Fundação da Ordem dos Clérigos Regulares Menores:

Em Nápoles, Ascanio se uniu a um grupo de sacerdotes que buscavam uma vida mais rigorosa de oração e penitência. Por um erro de correspondência divina, uma carta endereçada a um amigo, padre Giovanni Adorno, chegou às suas mãos. A carta revelava o desejo de Adorno de fundar uma nova congregação religiosa. Ascanio sentiu que aquilo era um sinal de Deus. Juntamente com o padre Giovanni Adorno e o padre Agostino Adorno (primo de Giovanni), Ascanio Caracciolo fundou a Congregação dos Clérigos Regulares Menores (Ordo Clericorum Regularium Minorum - O.C.R.M.), também conhecidos como Caracciolinos, aprovada pelo Papa Sisto V em 1588. A Regra da nova ordem incluía três votos comuns (pobreza, castidade e obediência) e um quarto voto peculiar: a não aspiração a dignidades eclesiásticas e a não aceitação de dignidades fora da ordem, a menos que por obediência expressa ao Papa. Ascanio professou seus votos em 1589, tomando o nome de Francisco em homenagem a São Francisco de Assis. Ele foi ordenado sacerdote no mesmo ano.

Vida e Obra de São Francisco Caracciolo:

São Francisco Caracciolo foi eleito o primeiro Superior Geral da ordem em 1589 e, novamente, em 1593. Sob sua liderança, a ordem se expandiu rapidamente, estabelecendo casas em Nápoles, Roma, Madri e Valladolid. Ele visitava os mosteiros a pé, com grande humildade e espírito de sacrifício, incentivando os irmãos à observância rigorosa da Regra e à caridade. O carisma principal da nova congregação, e de São Francisco, era a Adoração Eucarística Perpétua, dia e noite. Os religiosos se revezavam em turnos de adoração diante do Santíssimo Sacramento, buscando aprofundar sua união com Cristo presente na Eucaristia. Além da adoração, a ordem se dedicava ao serviço dos mais pobres, doentes e necessitados. São Francisco Caracciolo era um modelo de caridade, visitando hospitais, auxiliando os condenados à morte e distribuindo esmolas. Ele era conhecido por sua profunda humildade, mortificação e uma vida de intensa oração. Costumava ar noites inteiras em adoração. Sua frase mais conhecida, frequentemente repetida, era: "Deus é amor".

Morte e Canonização:

Após uma vida dedicada à santidade e ao serviço, São Francisco Caracciolo faleceu em 4 de junho de 1608, na cidade de Agnone, na Itália, enquanto viajava para visitar uma nova fundação da ordem. Suas últimas palavras teriam sido "Senhor, agora deixas o teu servo ir em paz, segundo a tua palavra". Foi beatificado pelo Papa Clemente XIV em 1769 e canonizado pelo Papa Pio VII em 24 de maio de 1807. Sua festa é celebrada em 4 de junho. São Francisco Caracciolo é um exemplo de como a nobreza de alma supera a nobreza de berço. Ele é o padroeiro da Adoração Eucarística e um modelo para todos aqueles que buscam uma vida de profunda união com Cristo, de serviço aos mais necessitados e de renúncia aos bens e honras mundanas em favor do Reino de Deus.